Linguística

É a ciência que estuda a linguagem verbal, a gramática e a evolução dos idiomas. O linguista investiga as línguas das diversas sociedades e sua relação com outros idiomas. Analisa a estrutura e a sonoridade das palavras e das sentenças, o significado dos termos e das expressões idiomáticas, bem como as diferenças de uso por grupos regionais ou sociais. Pode trabalhar na elaboração de material didático e no planejamento de projetos de alfabetização. A informática e a estatística são ferramentas fundamentais em suas pesquisas, assim como bons conhecimentos de sociologia, antropologia e psicanálise. Em interação com especialistas em psicologia, estuda os processos que envolvem a linguagem e a mente. Com profissionais de informática, desenvolve linguagem artificial.

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Fonética e fonologia
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As primeiras formas de linguagem. Éh?
Novo livro sustenta a polêmica teoria de que a linguagem humana teve origem nos gestos e não na fala.
por Jerônimo Teixeira
Fim de noite. Com aquela generosidade que só o chope concede, você anuncia: “Hoje sou eu que pago”. O garçom está entregando um prato de fritas no outro lado do salão. Você acena para ele e em seguida sinaliza com a mão no ar, como quem escreve com uma caneta imaginária. O garçom responde com um aceno de cabeça e o polegar para cima e segue rumo ao caixa. Estamos todos entendidos: você acaba de pedir a conta.
É um exemplo comum de como os gestos podem substituir a fala. Na história do gênero humano, porém, pode ter acontecido o contrário. No recém lançado From Hand to Mouth – the Origins of Language (Da Mão para Boca – As Origens da Linguagem, inédito no Brasil), Michael C. Corballis, professor de psicologia e ciências cognitivas da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, afirma que o ser humano começou a falar com as mãos.
Se sua hipótese está correta – e você vai ver a seguir que alguns cientistas já se mostram céticos a respeito –, nossos antepassados brucutus se faziam entender por meio de um misto de gestos e grunhidos e só muito gradualmente desenvolveram uma fala articulada. Evidências que apontam para a idéia de que a linguagem originou-se nos gestos estão se acumulando recentemente”, afirma Corballis.
Tais evidências vêm das mais diversas áreas, como a lingüística, a biologia molecular, a primatologia e a neurociência. Em cada um desses campos de estudo, há um vespeiro teórico armado para o pesquisador cutucar. A polêmica começa pela própria natureza da linguagem. Para muitos lingüistas – especialmente aqueles influenciados pela obra seminal do norte-americano Noam Chomsky –, a linguagem é uma propriedade exclusiva e inata do ser humano, e será inútil tentar qualquer analogia com as formas de comunicação de outras espécies.
O livro de Corballis insere-se no esforço mais ou menos recente de estudar a linguagem à luz da biologia. “Nos dias de hoje, é difícil ignorar a teoria da evolução. Isso significa que lingüistas e filósofos estão sendo obrigados a prestar mais atenção à ciência”, diz o autor.
Isso não significa que o teatro de Shakespeare ou os sonetos de Camões encontram paralelo na dança das abelhas ou no canto da cotovia. A linguagem é um salto evolucionário muito largo, e até hoje, que se saiba, só o Homo sapiens não tropeçou nesse passo (cientistas ainda discutem se o neandertal teria ou não um aparelho vocal que permitisse fala articulada). Especialistas têm catalogado os gestos e as vocalizações de outros primatas, mas os resultados são relativamente pobres.
Uma certa espécie de macaco tem gritos específicos, de acordo com o predador potencial que esteja se aproximando. Há um para cobra, outros para leopardo, falcão etc. Isso parece sugerir uma propriedade lingüística: a capacidade de referir objetos. Nossa habilidade referencial, no entanto, é bem mais sofisticada. Somente o ser humano é capaz de referir objetos ausentes. O leitor que leu a palavra “macaco” neste texto imediatamente soube do que se tratava, ainda que não encontre nenhum por perto. Os macacos só dão o berro de “leopardo” na presença do felino.
Os animais não mostram aptidão para o que os especialistas chamam teoria da mente – a capacidade de se colocar no lugar de outro. Um chimpanzé consegue no máximo notar que alguém o está observando. A complexidade dessas construções mentais exigiria a elaboração de orações subordinadas. Coisa de que somente o ser humano é capaz. Os animais simplesmente não conhecem gramática.
Nem o mais avançado aluno peludo pode superar uma criança humana. Estamos falando de Kanzi, um chimpanzé criado em cativeiro pela pesquisadora Sue Savage-Rumbaugh, da Universidade do Estado da Geórgia, em Atlanta, nos Estados Unidos. Com a ajuda de um teclado especial, Kanzi aprendeu um vocabulário básico de 256 símbolos que representam ações e objetos (substantivos e verbos). Ele entende e produz “frases” novas, mas sempre no padrão de objeto-ação. Uma declaração típica sua seria algo como “esconder amendoim” ou “pegar banana”.
Sue acredita que as habilidades comunicativas de Kanzi demonstram a existência de uma gramática básica, constituída por umas poucas regras simples. A ordem das palavras, por exemplo, parece seguir sempre o modelo sujeito-verbo-objeto (o qual, vale lembrar, não é comum a todas as línguas: em alemão e japonês, entre outros idiomas, o verbo costuma aparecer no fim). Na opinião de Corballis, Kanzi não ultrapassou o nível de uma protolinguagem. Esse termo foi cunhado pelo lingüista Derek Bickerton, da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos, para designar formas de comunicação que apresentam pelo menos uma sintaxe primitiva.
A protolinguagem está alguns passos adiante dos gritos e gestos que os chimpanzés apresentam no seu hábitat natural. Com seus poucos símbolos, Kanzi é capaz de produzir afirmações originais, criando combinações que não lhe foram ensinadas. Mas sua gramática – se é que ela existe – é muito rudimentar.
Não convém subestimar os macacos, no entanto. Foram eles que forneceram a Corballis uma das evidências de que a origem gestual da linguagem é plausível. Para que a linguagem seja compreendida, necessitamos de mecanismos de mapeamento mental que nos permitam reconhecer determinadas ações do nosso interlocutor como iguais às nossas. Na fala, por exemplo, precisamos compreender que as palavras que usamos são as mesmas do nosso interlocutor.
O estudo das atividades cerebrais dos macacos mostrou indícios desse mecanismo. Certos neurônios reagem do mesmo modo quando o macaco agarra determinado objeto e quando vê um humano agarrar o objeto. Ou seja, essas células nervosas respondem de forma igual à ação e à percepção da ação. Por isso são conhecidas como neurônios-espelho.
Esses neurônios encontram-se em uma área frontal nos dois lados do córtex cerebral dos macacos. No cérebro humano, são encontrados apenas no lóbulo esquerdo, próximos à chamada área de Broca, que está envolvida (embora não se saiba ainda em que extensão) na produção de linguagem.
Corballis nota que os neurônios-espelho dos macacos respondem a gestos, não a estímulos auditivos – o que ele interpreta como uma evidência da origem gestual da linguagem. Este é um ponto controverso da tese. Resenhando From Hand to Mouth para a revista Nature, Michael Tomasello, professor do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na Alemanha, flagrou uma certa parcialidade na argumentação de Corballis.
Ocorre que, ao lado dos neurônios-espelho, os macacos talvez ainda tenham o que se poderia chamar de neurônios-eco, que respondem do mesmo modo à emissão e à percepção de estímulos vocais. Neurônios desse tipo ainda não foram de fato encontrados. Mas Tomasello alega que a razão disso é provavelmente muito simples: até agora, nenhum cientista procurou por eles.
A linguagem de sinais empregada pelos surdos fornece outro argumento forte para Corballis. Por muito tempo, as linguagens de sinais estiveram cercadas de preconceito. Em 1880, um congresso internacional de educação de surdos realizado em Milão baniu o uso de sinais na sala de aula.
Em muitos países, a proibição durou quase um século, com conseqüências desastrosas para a educação dos surdos. Estudos lingüísticos mais recentes provaram que as linguagens de sinais não são menos expressivas do que a fala. São sistemas de comunicação complexos, dotados de uma sintaxe sofisticada e capazes de elaborar os conceitos mais abstratos.
O dado mais relevante é que a área de Broca parece desempenhar as mesmas funções na linguagem falada e na linguagem de sinais. A abordagem de Corballis privilegia a linguagem como uma função especializada do cérebro, centrada no lóbulo esquerdo. Um dos capítulos mais interessantes de seu livro é dedicado a explicar por que o nosso cérebro é assimétrico ou lateralizado – isto é, por que existem funções específicas para cada lóbulo cerebral (linguagem no lado esquerdo; percepção espacial no direito). “Corballis coloca muita ênfase na lateralização do cérebro, o que não é um sinal de linguagem.
Até mesmo as rãs, por exemplo, têm cérebros lateralizados que controlam suas vocalizações”, ataca Philip Lieberman, professor de ciências cognitivas e lingüísticas da Universidade de Brown, Estados Unidos. Lieberman também contesta que a área de Broca seja de fato o centro da linguagem. Estudos mais recentes demonstrariam que a linguagem envolve muitas áreas do cérebro, algumas inclusive abaixo do córtex, em centros nervosos responsáveis também por funções motoras.
Lieberman é um opositor categórico da hipótese de uma origem gestual da linguagem. “Há afinidades claras entre as comunicações verbais do ser humano e as de outras espécies”, argumenta. Ele é autor de Eve Spoke – Human Language and Human Evolution (Eva Falou – Linguagem e Evolução Humana, também inédito no Brasil), obra em que a emergência da fala aparece sincronizada com o surgimento do Homo sapiens na África, há cerca de 150 mil anos. Na visão de Corballis, o surgimento da linguagem é ao mesmo tempo jogado milhares de anos para frente e milhões para trás.
As primeiras formas de linguagem ou protolinguagem – eminentemente gestuais, mas já pontuadas pela vocalização – teriam aparecido há cerca de 2 milhões de anos, talvez já com o Homo rudolfensis, o primeiro membro do gênero humano. O pleno desenvolvimento da linguagem falada, no entanto, só teria se dado há cerca de 50 mil anos.
Em seus primeiros 100 mil anos sobre a Terra, o homem ainda teria se valido principalmente das mãos e das expressões faciais para comunicar-se – com alguns grunhidos eventuais. Acredita-se que a grande expansão do gênero humano da África para o resto do mundo começou há 50 mil anos. Há evidências fósseis de migrações anteriores, porém esses primeiros aventureiros parecem ter sumido sem deixar descendentes. Há 40 mil anos teria acontecido uma espécie de explosão evolutiva.
O homem teria começado a fabricar utensílios sofisticados. Surgem também mostras de pensamento simbólico – pinturas nas cavernas, por exemplo. Corballis crê que esse progresso foi propiciado pela fala. Uma vez que as mãos estavam livres das funções de comunicação, puderam caprichar na manufatura de objetos.
A fala permitiu, ainda, que os conhecimentos acumulados fossem transmitidos a seus descendentes. A fala teria dado ao Homo sapiens grandes vantagens tecnológicas sobre outros hominídeos, como os neandertais que habitavam a Europa e foram extintos há 30 mil anos. Não é à toa que hoje somos os únicos remanescentes do gênero Homo.
No livro de Corballis, a linguagem não é apresentada como o passo final de uma tendência evolucionária, mas como uma invenção que o homem foi aprimorando ao longo de sucessivas gerações, tal como ocorreria bem mais tarde com a escrita. O autor está hoje atualizando essa tese à luz de novas descobertas.
O livro já estava escrito quando foi publicada uma pesquisa revelando uma mutação em humanos, ocorrida nos últimos 100 mil anos. A mudança atingiu um gene que atende pelo simpático nome de FOXP2 e que está envolvido na nossa articulação vocal. Daria quase para publicar uma errata no livro: onde se lia “invenção”, leia-se “mutação”. “A mutação do FOXP2 certamente não foi o único evento que nos legou a fala”, afirma Corballis. O desenvolvimento do nosso aparelho vocal, por exemplo, foi resultado de uma evolução de longo curso, e não de uma mutação única. Corballis acredita que a mutação no FOXP2 apenas deu a vitória final à fala, que a partir de então estabeleceu-se como meio de comunicação dominante.
A linguagem em si é muito complexa para ter emergido somente nos últimos 100 mil anos. Portanto, devem ter existido formas de linguagem que não dependiam puramente da vocalização, e é difícil pensar em outras modalidades além dos gestos manuais e faciais”, afirma. Não seria exato, portanto, dizer que a linguagem falada substituiu a gestual.
Ela apenas se tornou predominante. Além disso, os gestos não desapareceram por completo. Continuamos a gesticular enquanto falamos – e o engraçado é que fazemos isso até no telefone, apesar de nosso interlocutor não nos enxergar.
A tese de Corballis é instigante, mas, como já se viu, controversa. Seu livro cobre um espectro muito amplo de disciplinas científicas e assim abre a guarda para receber críticas de todos os lados. Em uma resenha no Journal of Linguistics da Universidade de Edimburgo, na Escócia, James R. Hurford, especialista em evolução da linguagem daquela instituição, criticou Corballis por dar muito crédito às teorias de Merrit Ruhlen, lingüista da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que afirma ser possível reconstituir palavras de nossa primeira língua falada com base nos idiomas existentes hoje. Parece que Ruhlen não é levado muito a sério pelos demais lingüistas. Tomasello aponta algumas imprecisões na descrição que Corballis faz do repertório gestual dos chimpanzés. E Lieberman, como se vê, ataca Corballis no seu próprio campo, a neurociência.
Há várias afirmações de Corballis que eu acho demasiado pertinentes, incluindo a sua ênfase na lateralização das funções do cérebro”, afirma Terrence Deacon, professor de antropologia e neurociência na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Por outro lado, Deacon revela seu desapontamento com algumas lacunas de From hand to mouth. Faltariam, por exemplo, considerações mais detalhadas sobre a semiótica (estudo da significação) dos gestos. Aliás, Deacon considera que as linguagens de sinais existentes hoje não servem como modelo para especular que formas de comunicação nossos antepassados remotos teriam.
O curioso é que Corballis cita uma obra de Deacon, The Symbolic Species (A Espécie Simbólica, ainda sem versão em português), como inspiradora da teoria gestual. De fato, Deacon jamais se une a Lieberman na crítica feroz a essa idéia.
Ele acha plausível que hominídeos primitivos tenham usado gestos para se comunicar. O problema é que, ao contrário do que Corballis sugere, essa teoria não mata a charada. “A hipótese gestual nem remotamente explica as origens da linguagem, por que ela evoluiu, ou o que conduziu essa evolução. Ela simplesmente reconhece que o gesto é uma das características da linguagem que precisam ser consideradas”, diz Deacon.
Frases
A linguagem é um salto evolucionário muito largo que até hoje só o Homo sapiens conseguiu realizar. Outros primatas têm algumas propriedades lingüísticas – todas muito menos sofisticadas do que as do homem
Para saber mais
Na livraria
From Hand to Mouth - The Orings of Language, Michael C. Corballis, Princeton University Press, 2002
Eve Spoke; Human Language and Human Evolution, Philip Lieberman, Norton, 1998
Human Language and our Reptilian Brain, de Philip Lieberman, Harvard University Press, 2000
The Symbolic Species, Terrence Deacon, Norton, 1997






A origem das línguas
Como surgiram os idiomas falados no planeta? Artigo publicado em abril na revista ‘Science’ sugere que eles têm uma origem comum e anterior ao que se acreditava. No Estúdio CH desta semana, o linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná, comenta a pesquisa e o que se sabe até agora sobre esse tema.
Em entrevista a Fred Furtado, Faraco conta que atualmente não há uma hipótese única para explicar a origem da linguagem, mas sim possibilidades mais ou menos plausíveis. Segundo ele, esse é um assunto que exige muita cautela, pois não há indícios do que realmente aconteceu. “A linguagem verbal é imaterial, não deixa rastro ou fóssil linguístico”, completa.
Atualmente, trabalha-se com duas hipóteses: a monogênese, que sustenta que havia uma única manifestação da linguagem verbal, da qual derivaram as outras; e a poligênese, segundo a qual houve vários idiomas no início da humanidade.
Faraco explica que questões-chave dessa área, como o processo de diversificação das línguas, ainda não são totalmente compreendidas. Mas, segundo ele, observa-se, mesmo nos idiomas modernos, uma contínua fragmentação em outras línguas.
O linguista afirma que a fonologia, ciência que estuda a fonética das línguas, contradiz a conclusão da pesquisa publicada na Science, que sugere que quanto mais distante um idioma está da África, onde surgiu a espécie humana, menos fonemas ele terá. “Temos que saber o que o autor chama de fonema e por que ele não fez uso do conhecimento fonológico disponível”, observa Faraco. Ele conclui a entrevista falando sobre o papel dos linguistas nessa discussão e o futuro da linguística histórica.

Filosofia da linguagem (1): Da Torre de Babel a Chomsky
Josué Cândido da Silva, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação 15/08/200710h41
O surgimento da linguagem é um fato fundamental na história humana. Não seria possível a organização dos seres humanos em sociedade sem a linguagem e vice-versa. Isso indica que a linguagem e a vida em sociedade devem ter surgido praticamente ao mesmo tempo. É difícil determinar qual a origem da linguagem, pois não há muitas pistas a seguir.
As primeiras explicações sobre a origem da linguagem têm seus fundamentos na religião. Deus teria dado a Adão uma língua e a capacidade de nomear tudo o que existe. Haveria apenas uma língua, em que cada palavra teria apenas um significado. Mas como explicar a diversidade das línguas?

Torre de Babel
Na Bíblia, o Gênesis conta que "o mundo inteiro falava a mesma língua, com as mesmas palavras" (Gn 11,1). Os homens resolveram, porém, criar uma cidade com uma torre tão alta que chegaria a tocar o céu e os tornaria famosos e poderosos. Então Deus, para castigá-los, fez com que ninguém mais se entendesse e os homens passaram a falar línguas diferentes.
Assim, os construtores da torre se dispersaram e a obra permaneceu inacabada. A diversidade das línguas surge como forma de evitar a centralização do poder. A cidade dessa história bíblica ficou conhecida como Babel, que significa "confusão".


Rousseau e o 'grito da natureza'
O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) supôs que a linguagem humana teria evoluído gradualmente, a partir da necessidade de exprimir os sentimentos, até formas mais complexas e abstratas. Para Rousseau, a primeira linguagem do homem foi o "grito da natureza", que era usado pelos primeiros homens para implorar socorro no perigo ou como alívio de dores violentas, mas não era de uso comum.
A linguagem propriamente dita só teria começado "quando as ideias dos homens começaram a estender-se e a multiplicar-se, e se estabeleceu entre eles uma comunicação mais íntima, procuraram sinais mais numerosos e uma língua mais extensa; multiplicaram as inflexões de voz e juntaram-lhes gestos que, por sua natureza, são mais expressivos e cujo sentido depende menos de uma determinação anterior". (Jean Jacques Rousseau, "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens").
Já o filósofo e psicólogo americano George Herbert Mead (1863-1931), contrariamente a Rousseau, afirmava que a linguagem gestual precedeu a linguagem falada. A necessidade de combinarem certos gestos para coordenarem suas ações durante as caçadas ou fugas de outros animais levou os homens a desenvolverem certos gestos comuns que se repetiam.


Mead e a experiência comum
Nesse processo, a comunicação se torna possível pelo fato dos indivíduos adotarem o mesmo significado para um gesto evocando uma vivência anterior do próprio indivíduo. Segundo Mead, quando o gesto chega a essa situação, converte-se no que chamamos de "linguagem", ou seja, um símbolo significante que representa certo significado.
Com o passar do tempo, esse conjunto de gestos significantes dá lugar a formas mais elaboradas de linguagem, compondo um universo de discurso. Nesse estágio, o sentido já não é articulado apenas tendo por base a interiorização das expectativas de ação do outro. Há uma sofisticação da comunicação, que se torna possível pelo fato dos indivíduos adotarem o mesmo significado para o objeto dentro deste universo de discurso.
"Esse universo de discurso é constituído por um grupo de indivíduos que conduz e participa de um processo social comum de experiência e comportamento, e no qual esses gestos ou símbolos significantes têm a mesma significação, ou uma significação comum para todos os membros do grupo... Um universo de discurso é simplesmente um sistema de significados comuns ou sociais." (Mead, G., "Mind, Self and Society").
Portanto, a forma como o indivíduo organiza sua experiência é determinada em grande parte pelo universo de discurso ao qual ele pertence e conforma seu imaginário social e as formas de simbolização de sua experiência. Mas será que os limites da minha linguagem e da minha cultura são também os limites para pensar e significar a realidade?
Será que existem línguas mais apropriadas ao filosofar como o grego ou o alemão, por exemplo? Ou existiriam estruturas de pensamento universais independentes da cultura e da linguagem?

Noam Chomsky
Uma sugestiva contribuição sobre esse tema foi elaborada pelo linguista e ativista político americano Noam Chomsky (nascido em 1928), que revolucionou a linguística ao introduzir a relação entre o pensamento e a linguagem. Para Chomsky, a criança disporia de pouca informação da língua para aprender como a linguagem funciona. Ainda mais, se considerarmos que além de contarem com poucos estímulos, os adultos, muitas vezes, não ajudam a criança em seu aprendizado dizendo-lhes coisas sem muito sentido.
Mesmo assim, a maioria das crianças tem um domínio razoável da língua por volta dos dois anos de idade. Se considerarmos que a linguagem é um sistema bastante complexo com regras semânticas e sintáticas sutis e que o ambiente para o aprendizado da língua não é suficiente, então o que torna possível o seu aprendizado? A explicação estaria na estrutura mental geneticamente determinada, na qual estaria fixado um conjunto de regras gerais para a utilização da linguagem, que são universais por necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e que decorrem de características mentais da espécie.

'Gramática universal'
Chomsky define o conjunto de princípios e regras que determinam o uso da linguagem como "gramática universal". Trata-se de um sistema de princípios, condições e regras que são elementos ou propriedades de todas as línguas humanas. Esse sistema seria o resultado de um longo processo de evolução biológica, que constituiria a essência da linguagem humana.
Esta gramática universal seria, portanto, uma estrutura anterior ao aprendizado de qualquer gramática específica, pertencendo a um estágio inicial do cérebro. Ela não se identifica a nenhuma linguagem particular, mas é subjacente a todas as línguas possíveis.
Se a linguagem é aprendida a partir da interação social e por ela condicionada ou é produto da relação entre o ambiente e as estruturas mentais geneticamente herdadas é algo que ainda não podemos afirmar com certeza. Tal questão permanece guardada como um fascinante segredo sobre sua origem.
Josué Cândido da Silva, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é professor de filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA).


A origem da linguagem humana
Estudo sugere que a 'palavra nasceu' em África 2011-04-19 Segundo Atkinson, o número de fonemas é maior em África. Psicólogos da Universidade de Auckland acabam de publicar dois grandes estudos sobre a diversidade de línguas do mundo nos jornais Science e Nature. O primeiro estudo, publicado na Science por Quentin Atkinson, sugere que África é o berço da linguagem humana.
Quentin Atkinson estudou os fonemas, ou unidades perceptivelmente distintas do som que diferenciam palavras, usado em 504 línguas humanas actuais e descobriu que o número de fonemas é maior em África e diminui com o distanciamento deste continente.
O menor número de fonemas são encontrados na América do Sul e nas ilhas tropicais do Oceano Pacífico. Este padrão encaixa-se num modelo em que as populações pequenas em expansão progressiva perdem diversidade. O cientista observou que esse padrão de uso de fonemas em todo o mundo reflecte o padrão de diversidade genética humana, que também diminuiu à medida que os seres humanos se expandiram de África para colonizar outras regiões.
Em geral, as áreas da Terra que foram colonizadas mais recentemente incorporam menos fonemas nas línguas locais ao passo que as áreas que receberam os seres humanos modernos há milénios (principalmente a África subsaariana) ainda usam o maior número de fonemas. Este declínio no uso de fonemas não é explicado por mudanças demográficas ou outros factores locais, e fornece fortes evidências de uma origem das línguas modernas humana em África.

Cognição supera cultura
O segundo estudo, publicado na Nature pelos investigadores Russell Gray e Simon Greenhill da Universidade de Auckland e os colegas Michael Dunn e Stephen Levinson do Instituto Max Planck de Psicolinguística, na Holanda, desafia a ideia de que o cérebro humano produz regras universais para a linguagem.“A diversidade das línguas do mundo é incrível”, afirma Russell Gray. “Há cerca de sete mil línguas faladas hoje em dia, algumas com apenas uma dúzia de sons contrastivos, outros com mais de cem, alguns com padrões complexos de formação de palavras, outros apenas com simples palavras, alguns com o verbo no início da frase, outros no meio e no final”.
Segundo o cientista, a investigação “mostra que as reivindicações que alguns linguistas têm feito sobre o papel da estrutura inata da mente humana na formação da variação linguística têm sido extremamente exageradas”. Com métodos computacionais derivados da biologia evolutiva, Russell Gray e equipa analisaram os padrões globais na ordem da evolução da palavra. Em vez de padrões universais de dependências nas características da palavra, os investigadores descobriram que cada família de linguagem tinha as suas próprias tendências evolutivas. “No que toca à evolução da linguagem, a cognição prevalece sobre a cultura”, sublinhou Russell Gray.


A origem das línguas indo-europeias
The New York Times News Service / Sindicato
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Com o uso de ferramentas desenvolvidas para montar árvores genealógicas, biólogos disseram ter conseguido solucionar um dos maiores enigmas da Arqueologia: a origem da família linguística indo-europeia. A família inclui o inglês e muitas outras línguas europeias, bem como o persa, o hindu e outras. Apesar da importância das línguas, os especialistas por muito tempo discordaram sobre sua origem.
Linguistas acreditam que os primeiros falantes da "língua-mãe", chamada de proto-indo-europeu, eram pastores nômades e guerreiros que andavam de carruagem e saíram de sua terra natal nas estepes ao norte do Mar Negro, há 4 mil anos, e conquistaram a Europa e a Ásia. Uma teoria rival diz que, ao contrário, os primeiros falantes da família linguística indo-europeia foram fazendeiros pacíficos que viviam na Anatólia, região onde hoje está a Turquia, há cerca de 9 mil anos, que disseminaram sua língua pela enxada, não pela espada.
Quem acaba de adentrar o debate é o biólogo evolucionista Quentin Atkinson, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Ele e sua equipe analisaram o vocabulário existente e o alcance geográfico de 103 línguas indo-europeias. Com a ajuda de computadores, retraçaram seus passos até a origem mais estatisticamente provável das línguas.
O resultado, divulgado na edição desta semana do periódico Science, foi um apoio decisivo à teoria da Anatólia, e não à teoria da origem nas estepes. Tanto a cronologia quanto a raiz da árvore genealógica das línguas indo-europeias "condizem com uma expansão agrícola que teria começado entre oito mil e 9500 anos atrás", escreveram eles.
Contudo, apesar dos seus métodos estatísticos avançados, o estudo dos pesquisadores pode não convencer a todos. Os pesquisadores começaram o estudo com uma série de palavras conhecidas por sua resistência às mudanças linguísticas, como pronomes, partes do corpo e relações familiares, e as comparou com a palavra ancestral inferida em proto-indo-europeu. As palavras que têm uma linha clara de descendência do mesmo ancestral são conhecidas como cognatas. Assim, "mother" (inglês), "mutter" (alemão), "mat" (russo), "madar" (persa), "matka" (polonês) e "mater" (latim) são todas cognatas derivadas do proto-indo-europeu "mehter".
Atkinson e seus colegas atribuíram então um valor a cada série de palavras no vocabulário das 103 línguas. Em línguas nas quais a palavra era cognata, os cientistas deram o valor de 1; naquelas em que ela foi substituída por uma palavra não relacionada, o valor era zero. Cada língua foi então representada por uma sequência de uns e zeros, e os pesquisadores puderam computar as árvores genealógicas mais prováveis mostrando as relações entre as 103 línguas.
Em seguida, as datas das divergências linguísticas de que se tinha conhecimento foram inseridas no computador. O romeno e outras línguas latinas, por exemplo, começaram a divergir do latim depois de 270 d.C., quando as tropas romanas deixaram a província romana de Dácia. Ao aplicar tais datas a alguns ramos da árvore, o computador conseguiu estimar as datas de todo o resto.
Também foram registrados no computador os dados geográficos do alcance atual de cada língua. Além disso, foram calculados os caminhos de distribuição mais prováveis de cada origem, dada a provável árvore genealógica de descendentes. Os cálculos apontaram para a Anatólia, uma região em forma de losango que fica no sul do que hoje é a Turquia, como a origem mais plausível do indo-europeu – uma área que já havia sido proposta como local de origem do indo-europeu pelo arqueólogo Colin Renfrew em 1987, porque dali também se irradiou a agricultura para o resto da Europa.
O trabalho de Atkinson integrou uma grande quantidade de dados com um método computacional que havia se mostrado bem-sucedido em estudos de evolução. Mas os resultados que obteve talvez não mudem a opinião daqueles que apoiam a teoria rival, que defende que as línguas indo-europeias se espalharam cerca de 5 mil anos mais tarde, por meio de pastores guerreiros que conquistaram a Europa e a Índia a partir das estepes do Mar Negro.
Um elemento fundamental de suas provas está no fato do proto-indo-europeu ter um vocabulário relativo a carruagens e carroças que inclui palavras que designam "roda", "eixo de rodas", "couraça" e "locomoção em um veículo". Tais palavras têm inúmeros descendentes entres as línguas-filhas indo-europeias. Assim, o indo-europeu não poderia ter se fragmentado entre essas línguas-filhas, argumentam os linguistas históricos, antes da invenção de carruagens e carroças, cujos exemplos mais antigos de que se tem notícia datam de 3500 a.C. Isso descartaria qualquer conexão entre o indo-europeu e a difusão da agricultura cuja origem seria a Anatólia, que aconteceu muito antes.
"Eu vejo o indício dos veículos com rodas como um trunfo valioso que acaba com qualquer árvore genealógica", disse David Anthony, arqueólogo da Faculdade Harwick que estuda origens indo-europeias.
Os linguistas históricos veem outros indícios no fato de que os primeiros falantes de indo-europeu tinham palavras para "cavalo" e "abelha", e emprestaram muitas palavras básicas ao proto-urálico, que deu origem ao finlandês e ao húngaro. O melhor local para se encontrar cavalos selvagens, abelhas e estar próximo a falantes do proto-urálico seria a região das estepes acima do Mar Negro e do Cáspio. Os indivíduos do povo kurgan, que ocupou a região entre cinco mil e três mil a.C., por muito tempo foram considerados os primeiros falantes de indo-europeu.
Em um livro recente, "The Horse, the Wheel and Language" ("O Cavalo, a Roda e a Linguagem", em tradução livre), Anthony descreve como os povos das estepes desenvolveram uma sociedade móvel e um sistema social que lhes permitiu partir de fora de sua terra natal em várias direções e espalhar sua língua nas direções leste, oeste e sul.
Anthony disse ter achado a árvore de línguas de Atkinson implausível no que diz respeito a vários detalhes. O tocariano, por exemplo, é um grupo de línguas indo-europeias falado no noroeste da China. É difícil imaginar os tocarianos migrando até lá do sul da Turquia, disse ele, enquanto que a migração da região de Kurgan até as Montanhas Altai do leste da Ásia Central é bem conhecida e poderia ter sido a precursora dos falantes de tocariano que vivem ao longo da Rota da Seda.
Segundo Atkinson, esse é um "argumento infundado" e tais conjecturas deveriam ser avaliadas de maneira quantitativa.
Anthony, reconhecendo que nem ele nem Atkinson são linguistas, disse que as palavras cognatas são apenas um dos ingredientes da reconstrução das árvores linguísticas, e que as mudanças gramaticais e fonológicas também deveriam ser consideradas. A simulação de Atkinson é "incompleta", por isso não é de estranhar que a árvore que ela produz contenha agrupamentos de línguas que não poderiam sobreviver caso incluíssemos mudanças na morfologia e no som", disse Anthony.
Atkinson respondeu que ele de fato rodou a simulação computacional em uma árvore baseada em gramática construída por Don Ringe, um especialista em indo-europeu da Universidade da Pensilvânia, mas o resultado apontou mais uma vez para a Anatólia, e não para a Estepe Pôntica.


Linguística
Disciplina científica que se dedica ao estudo do funcionamento da linguagem e das línguas naturais.
A linguística atual tem desenvolvido diversas linhas de investigação, cujos estudos e progressos contribuíram para a formação de verdadeiras subdisciplinas dentro da linguística, em que a interdisciplinaridade é uma constante na sua metodologia de análise. As principais linhas de investigação na linguística contemporânea são:
Linguística geral: estudo dos princípios gerais e translinguísticos subjacentes ao uso e funcionamento das línguas naturais, independentemente da sua especificidade e diversidade. Fonética: estudo da realidade acústica, do funcionamento articulatório e anatómico e da interpretação percetiva dos sons de uma determinada língua natural.
Fonologia: estudo do sistema sonoro de uma língua, das regras subjacentes à combinação desses sons e do modo como esses sons exprimem distinções de significado.
Prosódia: estudo da dimensão suprassegmental da língua e do impacto, do ponto de vista comunicativo, que essa dimensão exerce na língua, ou seja, a prosódia dedica-se à análise das variações sofridas pela frequência fundamental (também entoação), pela intensidade e pela duração de certos segmentos linguísticos.
Morfologia: estudo da formação e da estrutura interna das palavras na língua.Sintaxe: estudo das regras subjacentes à organização das palavras numa frase gramaticalmente bem formada.
Semântica: estudo do significado da produção e interpretação de palavras e frases.
Pragmática: estudo do uso da língua em contexto por oposição ao estudo do sistema da língua.
Análise do discurso: estudo do uso e funcionamento dos vários tipos de organização discursiva (como o discurso narrativo, descritivo, argumentativo, explicativo, dialogal, entre outras possibilidades tipológicas).
Linguística histórica (ou diacrónica): estudo da origem e evolução de uma dada língua ao longo de um certo período temporal.
Linguística aplicada: aplicação ao ensino/aprendizagem das línguas maternas e estrangeiras dos princípios teóricos e metodológicos resultantes da investigação das diversas áreas da linguística.Sociolinguística: estudo das características e dos fatores de ordem social que influenciam e determinam uma língua ou variedade linguística.
Psicolinguística: estudo da relação entre processos mentais (perceção, memória, atenção) e a aquisição e desenvolvimento da linguagem verbal. Disciplina em relação com as outras disciplinas - as Patologias da Fala e a Psicologia do Desenvolvimento.
Dialetologia: estudo das características e do funcionamento subjacente à diversidade geográfica das línguas, refletida em dialetos e sotaques.
Neurolinguística: estudo da relação entre o cérebro e a linguagem e dos mecanismos subjacentes à aquisição e utilização da capacidade da linguagem pelo homem.
Linguística computacional (também designada por engenharia da linguagem): interseção entre as novas tecnologias de processamento computacional das línguas e os conhecimentos fornecidos pela linguística teórica. Inclui o processamento da linguagem natural (PLN) e o processamento computacional da fala, com destaque para a síntese da fala e reconhecimento de voz.
Terapia da fala: diagnóstico, análise e tratamento das perturbações da fala e do processamento cognitivo da linguagem.
Lexicologia: estudo do vocabulário no que respeita à sua frequência, distribuição, conteúdo, formação e história.
Lexicografia: ramo da lexicologia que se dedica à realização de dicionários monolingues e bilingues.
A linguística como ciência surgiu no início do século XIX com o método histórico-comparativista. Até ao século XIX, os estudos sobre a linguagem encontravam-se associados à filosofia e à gramática normativa, que possuíam objetos de estudo, finalidades e métodos diferentes dos que viriam a ser desenvolvidos pela linguística moderna. Em 1816, Franz Bopp publicava o primeiro estudo sobre morfologia comparada indo-europeia: "Sobre o sistema flexional da língua sânscrita, comparado com os do grego, do latim, do persa e das línguas germânicas". Seguiram-se os estudos de outros indo-europeístas, os dinamarqueses Rasmus Rask e Karl Verner, e o alemão Jacob Grimm, que desenvolveram trabalhos sobre as tendências evolutivas do ramo das línguas germânicas no quadro geral das línguas indo-europeias. As descobertas de Charles Darwin sobre a evolução das espécies vieram reforçar os estudos evolucionistas sobre as línguas indo-europeias e garantir um estatuto científico às novas metodologias linguísticas.
Nos anos 70 do século XIX, um grupo de académicos da Universidade de Leipzig desenvolveu a Teoria Neo-Gramática, baseada no princípio de que as tendências gerais descobertas para as línguas germânicas não eram mais que leis linguísticas, à semelhança das leis científicas proclamadas por Darwin. Os neo-gramáticos, de onde constam os nomes de Hermann Osthoff, Karl Brugmann, A. Leskien e Hermann Paul, lançaram as bases que viriam a tornar a linguística uma ciência, assente nos seguintes princípios:
1. há uma regularidade na mudança fonológica - toda a mudança dos sons da língua obedece a leis que não admitem qualquer exceção;
2. a diversidade sincrônica das línguas é o ponto de partida para estudar a diacronia dessas mesmas línguas;
3. a analogia é um dos motivos psicológicos que estão na base da mudança linguística, o que explicaria sempre os casos que escapassem às regularidades fonológicas.
A teoria neo-gramática elegeu a linguística histórica como objeto de estudo, tendo-se dedicado em especial à fonologia, à morfologia e à sintaxe diacrónicas.
Nos alvores do século XX, concretamente em 1915, é publicada, a título póstumo, uma obra que viria a ser considerada como a base dos estudos em linguística contemporânea: o "Cours de Linguistique Général", de Ferdinand de Saussure. Esta obra, que reunia as aulas ministradas por Saussure e compiladas pelos seus alunos C. Bally e A. Sechehaye, viria a definir com rigor o método e o objeto de estudo da linguística, assinalando o seu carácter descritivo e não normativo, destacando-se da filologia ou da gramática comparativista oitocentista. A nova linguística saussuriana nasce entre a semiologia, enquanto estudo dos signos da língua, e o pensamento estrutural, enquanto estudo da língua como estrutura e sistema, lançando assim as bases de uma nova ciência da linguagem.
Nos anos 30 do século XX, o Círculo Linguístico de Praga lança as bases do chamado "estruturalismo europeu", que viria a ser continuado pelas escolas da
Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do Funcionalismo de A. Martinet. Paralelamente, desenvolve-se no mundo anglo-saxónico o "estruturalismo Americano", que conheceu desenvolvimentos mais profundos no Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett (1958) e Z. S. Harris (1951, 1962) e vindo a encontrar a sua mais ampla expressão no Generativismo de N. Chomsky (1957, 1965) e seus seguidores.
Nos anos 60 do século XX, William Labov dá início a uma revolução no campo da linguística, com estudos sobre o tecido social americano e a sua influência nos falares da região. Labov, com a sua obra Sociolinguistic Patterns, veio demonstrar que a mudança linguística é visível na sincronia, quando se avalia a diversidade e a dinâmica social. O boom da sociolinguística viria a ter grande impacto na linguística em geral e sobretudo na linguística aplicada às línguas estrangeiras.
A pragmática e a análise do discurso viriam a nascer por esta altura, com os estudos de Émile Benveniste sobre a enunciação e a subjetividade na linguagem. Também no mundo anglo-saxónico, os trabalhos dos filósofos da linguagem John Austin e John Searle sobre os atos ilocutórios e os estudos de H. Paul Grice sobre o funcionamento da conversação lançaram os princípios de uma nova conceção e metodologia em linguística, instituindo uma linguística assente no uso/ funcionamento da língua em alternativa a uma linguística do sistema, que viria a ser continuada até hoje pelos desenvolvimentos em torno do generativismo de Noam Chomsky.
O advento das novas tecnologias e da sociedade de informação fizeram com que a linguística fosse aplicada a novas áreas científicas, tendo assim surgido novas linhas de investigação como a linguística computacional, a engenharia da linguagem, o processamento das línguas naturais, o processamento computacional da fala, a tradução automática, etc.
A interdisciplinaridade dominante nos novos paradigmas da ciência e o desenvolvimento do paradigma cognitivista aplicado às ciências cognitivas, conduziram a linguística para as áreas das ciências da saúde e da psicologia, tendo dado origem à terapia da fala, à psicolinguística e à neurolinguística.

Curso de Linguística
O currículo inclui disciplinas como fonética, sintaxe, análise do discurso, estudo das línguas e neurolinguística. Recentemente, algumas universidades incluíram a matéria tratamento computacional das línguas, na qual o aluno aprende a manusear programas de computador que fazem tradução e correção (gramatical e léxica) de textos. Há instituições que realizam trabalhos de campo, nos quais se investiga a língua de determinada comunidade para documentar suas particularidades.

O que você pode fazer

Avaliação da linguagem normal e patológica

Avaliar problemas de linguagem e propor terapias de recuperação em parceria com médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos.

Descrição e análise de línguas

Pesquisar os sons, a morfologia, a sintaxe e a semântica de idiomas e elaborar dicionários e gramáticas. Criar meios de preservação da fala e da escrita de grupos étnicos minoritários.

Descrição dos sons da voz

Reconhecer vozes e verificar a autenticidade de gravações em laboratórios de fonética de universidades e órgãos policiais ou judiciais.

Docência e pesquisa

Orientar projetos de pesquisa e ministrar aulas teóricas e práticas.

Investigação de autoria de textos

Pesquisar as características de um texto para determinar sua autoria.

Linguística computacional

Trabalhar em equipe com profissionais de informática na elaboração de programas que façam o computador responder a comandos de voz.

Treinamento em línguas estrangeiras

Auxiliar profissionais a aperfeiçoar a pronúncia e a fluência em uma língua estrangeira.



Linguística

A Linguística é concebida como a ciência que se ocupa do estudo acerca dos fatos da linguagem, cujo precursor foi Ferdinand de Saussure.

Ferdinand de Saussure – considerado o fundador da Linguística
Ferdinand de Saussure – considerado o fundador da Linguística
 
O termo “Linguística” pode ser definido como a ciência que estuda os fatos da linguagem. Para que possamos compreender o porquê de ela ser caracterizada como uma ciência, tomemos como exemplo o caso da gramática normativa, uma vez que ela não descreve a língua como realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses. 
Assim, a título de reforçarmos ainda mais a ideia abordada, consideremos as palavras de André Martinet, acerca do conceito de Linguística:
“A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como  o objeto desta ciência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-se”.
MARTINET, André. Elementos de linguística geral. 8 ed. Lisboa: Martins Fontes, 1978.
O fundador destaciência foi Ferdinand de Saussure, um linguista suíço cujas contribuições em muito auxiliaram para o caráter autônomo adquirido por essa ciência de estudo. Assim, antes de retratá-las, constatemos um pouco mais acerca de seus dados biográficos:
Ferdinand de Saussure nasceu em 26 de novembro de 1857 em Genebra, Suíça. Por incentivo de um amigo da família e filólogo, Adolphe Pictet, deu início aos seus estudos linguísticos. Estudou Química e Física, mas continuou fazendo cursos de gramática grega e latina, quando se convenceu de que sua carreira estava voltada mesmo para tais estudos, ingressou-se na Sociedade Linguística de Paris. Em Leipzig estudou línguas europeias, e aos vinte e um anos publicou uma dissertação sobre o sistema primitivo das vogais nas línguas indo-europeias, defendendo, posteriormente, sua tese de doutorado sobre o uso do caso genitivo em sânscrito, na cidade de Berlim. Retornando a Paris passou a ensinar sânscrito, gótico e alemão e filologia indo-europeia. Retornando a Genebra continuou a lecionar novamente sânscrito e linguística histórica em geral.
Na Universidade de Genebra, entre os anos de 1907 e 1910, Saussure ministrou três cursos sobre linguística, e em 1916, três anos após sua morte, Charles Bally e Albert Sechehaye, alunos dele, compilaram todas as informações que tinham aprendido e editaram o chamado Curso de Linguística Geral – livro no qual ele apresenta distintos conceitos que serviram de sustentáculo para o desenvolvimento da linguística moderna.  
Entre tais conceitos, tornam-se passível de menção alguns deles, tais como as dicotomias:
Língua X Fala
Esse grande mestre suíço aponta que entre dois elementos há uma diferença que os demarca: enquanto a língua é concebida como um conjunto de valores que se opõem uns aos outros e que está inserida na mente humana como um produto social, razão pela qual é homogênea, a fala é considerada como um ato individual, pertencendo a cada indivíduo que a utiliza. Sendo, portanto, sujeita a fatores externos.   
Significante X Significado
Para Saussure, o signo linguístico se compõe de duas faces básicas: a do significado – relativo ao conceito, isto é, à imagem acústica, e a do significante – caracterizado pela realização material de tal conceito, por meio dos fonemas e letras. Falando em signo, torna-se relevante dizer acerca do caráter arbitrário que o nutre, pois, sob a visão saussuriana, nada existe no conceito que o leve a ser denominado pela sequência de fonemas, como é o caso da palavra casa, por exemplo, e de tantas outras. Fato esses que bem se comprova pelas diferenças existentes entre as línguas, visto que um mesmo significado é representado por significantes distintos, como é ocaso da palavra cachorro (em português); dog (inglês); perro (espanhol); chien (francês) e cane (italiano). 
Sintagma X Paradigma
Na visão de Saussure, o sintagma é a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior, ou seja, a sequência de fonemas se desenvolve numa cadeia, em que um sucede ao outro, e dois fonemas não podem ocupar o mesmo lugar nessa cadeia. Enquanto que o paradigma para ele se constitui de um conjunto de elementos similares, os quais se associam na memória, formando conjuntos relacionados ao significado (campo semântico). Como o autor mesmo afirma, é o banco de reservas da língua
Sincronia X Diacronia
Saussure, por meio dessa relação dicotômica retratou a existência de uma visão sincrônica – o estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica - estudo da linguística histórica, materializado pela mudança dos signos ao longo do tempo. Tal afirmação, dita em outras palavras, trata-se de um estudo da linguagem a partir de um dado ponto do tempo (visão sincrônica), levando-se em consideração as transformações decorridas mediante as sucessões históricas (visão diacrônica), como é o caso da palavra vosmecê, você, ocê, cê, vc...
Mediante os postulados aqui expostos, cabe ainda ressaltar que a linguística não se afirma como uma ciência isolada, haja vista que se relaciona com outras áreas do conhecimento humano, tendo por base os conceitos dessas. Por essa razão, pode-se dizer que ela assim subdivide:
* Psicolinguística – trata-se da parte da linguística que compreende as relações entre linguagem e pensamentos humanos.
* Linguística aplicada – revela-se como a parte dessa ciência que aplica os conceitos linguísticos no aperfeiçoamento da comunicação humana, como é o caso do ensino das diferentes línguas.
* Sociolinguística – considerada a parte da linguística que trata das relações existentes entre fatos linguísticos e fatos sociais.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras



Processamento de Linguagem Natural

    Durante milhões de anos o cérebro humano foi desenvolvido e evoluiu para a capacidade de comunicação social através da linguagem. Atualmente os computadores e equipamentos eletrônicos nos obrigam a aprender formas não intuitivas de comunicação com essas máquinas através de comandos precisos, linguagens de programação, menus, links e botões. As interfaces entre as máquinas e seres humanos estão ficando mais sofisticadas e caminhando aos poucos em direção às formas mais humanas de comunicação. Muitas vezes ainda precisamos dar comandos do tipo "copy c:\file.doc a:\" para copiar um arquivo para o disquete, ou podemos fazer isso de forma gráfica, mas estamos (ou melhor, estávamos) longe de poder dizer "Computador, copie para o disquete o texto acabei de salvar".

    O Processamento de Linguagem Natural (NLP, sigla em inglês) é o conjunto de métodos formais para analisar textos e gerar frases escritas em um idioma humano. Normalmente computadores estão aptos a compreender instruções escritas em linguagens de computação como o Java, C, PERL, Basic, etc., mas possuem muita dificuldade em entender comandos escritos em uma linguagem humana. Isso se deve ao fato das linguagens de computação serem extremamente precisas, contendo regras fixas e estruturas lógicas bem definidas que permitem o computador saber exatamente como deve proceder a cada comando. Já em um idioma humano uma simples frase normalmente contém ambiguidades, nuances e interpretações que dependem do contexto, do conhecimento do mundo, de regras gramaticais, culturais e de conceitos abstratos.

    O objetivo final do Processamento de Linguagem Natural é fornecer aos computadores a capacidade de entender e compor textos. E "entender" um texto significa reconhecer o contexto, fazer análise sintática, semântica, léxica e morfológica, criar resumos, extrair informação, interpretar os sentidos e até aprender conceitos com os textos processados.

    Não se sabe se um dia os computadores poderão igualar (ou superar) a capacidade humana de entender ou compor textos. Atualmente estas capacidades são bastante limitadas no computador mas muitos resultados práticos já são possíveis e utilizados por diversos tipos de programas.
    O Grupo de Lingüística da Insite desenvolveu 3 aplicativos que utilizam recursos do NLP:

  • InSearch - Sistema de Busca com recursos similares ao Google ou Altavista. Utiliza recursos de NLP nas queries (buscas), na categorização do conteúdo indexado e na organização da informação.
  • InBot - Sistema de Inteligência Artificial que permite simular uma pessoa conversando com o usuário.
  • InTranslator - Tradutor entre idiomas que usa recursos linguísticos para traduzir frases corretamente. Pode ser usado em salas de "chat" para tradução simultânea das conversas mesmo que contenham gírias, abreviações e até alguns erros de grafia.


Linguística


                 Por Cristiana Gomes
LÍNGUA, FALA, SIGNIFICADO, SIGNIFICANTE, SINCRONIA E DIACRONIA.
O fundador da lingüística moderna chama-se Ferdinand de Saussure. Saussure trouxe novos caminhos para a lingüística, graças ao seu estudo sobre a língua e a fala (langue e parole).
Para Saussure a língua foi imposta ao indivíduo, enquanto a fala é um ato particular.
A soma língua + fala resulta na linguagem.
Outro aspecto básico da doutrina saussuriana é a do signo lingüístico.
O signo é o resultado de significado mais significante.
Signo = significado + significante
Significado: conceito
Significante: forma gráfica + som
Toda palavra que possui um sentido é considerada um signo lingüístico.
Exemplo:
“Livro” é um signo lingüístico.
Quando observamos o signo “livro” percebemos que ele é a união de som, conceito e escrita, ou seja, significado e significante.
Outros exemplos de signos lingüísticos:
Mar, cadeira, ventilador, cachorro, casa….
A lingüística pode ser: sincrônica ou diacrônica.
Sincrônica: estuda a língua em um dado momento.
Diacrônica: estuda a língua através dos tempos.
CARACTERÍSTICAS DO SIGNO LINGÜÍSTICO
Arbitrariedade: uma das características do signo lingüístico é o seu caráter arbitrário. Não existe uma razão para que um significante (som) esteja associado a um significado (conceito). Isso explica o fato de que cada língua usa significantes (som) diferentes para um mesmo significado (conceito).
Linearidade: Os componentes que integram um determinado signo se apresentam um após o outro, tanto na fala como na escrita.
DIVISÕES DA LINGÜÍSTICA
- Fonética: Estuda os sons da fala.
- Fonologia: Estudo dos fonemas.
- Morfologia: Estuda a estrutura, formação, as flexões e a classificação das palavras.
- Sintaxe: Se ocupa das relações entre as palavras ou entre as orações.
- Semântica: Estuda a significação das palavras.
- Lexicologia: Estuda o conjunto de palavras de um idioma.
- Estilística: A estilística nos dá vários recursos para tornarmos os nossos discursos (falados ou escritos) mais expressivos e elegantes. Esses recursos são as figuras de linguagem e os vícios de linguagem.
- Pragmática: Estudo de como a fala é usada na comunicação diária.
- Filologia: Estuda a língua através de documentos escritos antigos.
É bom ressaltar que nem todos os lingüistas concordam com essa divisão.
LINGUISTAS NOTÁVEIS
- Franz Bopp
- Leonard Bloomfield
- Roman Jakobson
- Umberto Eco
- Noam Chomsky
- Michael Halliday
CORRENTES DA LINGÜÍSTICA
Os estudos lingüísticos neste século tomaram vários rumos nos diversos países em que se desenvolveram, definindo escolas ou correntes teóricas.
Entre elas, destacam-se:
Gerativismo: procura mostrar a capacidade que o indivíduo tem de compreender uma frase mediante um número finito de regras e elementos combinados.
Pragmatismo: Aborda a relação entre o discurso que envolve o indivíduo e a situação comunicativa em que ele é produzido.
Estruturalismo: entende a língua como um sistema articulado em que todos os elementos estão interligados.
Alguns lingüistas estudam a linguagem de apenas um indivíduo, outros estudam a linguagem de uma comunidade inteira.
Certos lingüistas contemporâneos dão mais importância a fala do que a escrita, pois a fala é uma característica de todos os indivíduos, já a escrita, não.
Mas isso não significa que a escrita não é estudada. É, sim e a cada dia são criados novos meios de estudá-la.
MINI BIOGRAFIA FERDINAND SAUSSUARE
Ferdinand de Saussure (1857 – 1913), era suíço e lecionou Lingüística Geral na Universidade de Paris e de Genebra por mais de 20 anos.
Seus conceitos foram proferidos em aula, e 3 anos após a sua morte (em 1916), dois de seus alunos (Bally e Sechehaye) publicaram “Curso de Lingüística Geral” .
Apesar da importância de Saussure para a lingüística, ele e suas teorias foram muito criticadas.

Fonte:  http://www.infoescola.com/portugues/linguistica/ 



Por uma Linguística da Internet 

Tânia G. Saliés
Tania G. Shepherd
A história já demonstrou que a sociedade muda quando novas invenções são introduzidas no nosso dia a dia. Antes de integrarem nossas vidas de forma imperceptível, tecnologias como a TV, o celular e o computador causaram um imenso impacto: o que era previsível e confortável tornou-se instável e imprevisível. Hoje, quando olhamos para essas tecnologias, raramente nos perguntamos qual a sua contribuição. Só que não conseguimos viver sem elas.
A última fronteira na qual o tecnológico vem impactando a sociedade é a internet. Nela há mais de 1.000 línguas representadas. Segundo estatísticas publicadas pelo site Internet World Stats, as dez línguas mais usadas até 2011 foram o inglês, o chinês, o espanhol, o japonês, o português, o alemão, o árabe, o francês, o russo, o coreano, nessa ordem, somando aproximadamente sete milhões de internautas engajados social e culturalmente na construção do sentido. Na internet há também uma crescente expansão de mídias de toda natureza: as mais colaborativas, como as wikis, as mais dedicadas ao compartilhamento, como o YouTube, e as mais interacionais, como os Blogs, Twitter, Tumblr e Facebook. À medida que a internet expande essa infra-estrutura, atende a necessidades de comunicação, criando novas formas de colaboração, compartilhamento e interação.
A Linguística não poderia ignorar esse espaço. Que área de conhecimento analisaria o discurso dos blogs? Ou discutiria as vozes presentes na internet e as identidades nela projetadas discursivamente? Será que os instrumentos descritivos e metodológicos disponibilizados para análise da comunicação face a face proveem adequação explanatória para o que acontece na interação em mídia digital? E conceitos teóricos, como piso conversacional, sincronia, diacronia, fluxo de tópico, dão conta dos processos de construção de sentido na Comunicação Mediada por Computador (CMC)? Este livro aborda essas questões, examinando o uso da linguagem em meios digitais, assim como questões teóricas e metodológicas prementes, em face do desafio oferecido pela internet e pelo internetês. Nessa tarefa, alinhamo-nos a David Crystal, que contribui para o volume, e propomos não uma Linguística atuando na internet, mas uma internet com uma Linguística própria que dê conta da crescente produção discursiva digital em língua portuguesa.


Linguística

Saussure, considerado o pai da Linguística moderna.

Linguística é a área de estudo científico da Linguagem.1 É considerado linguista o cientista que se dedica aos estudos a respeito da língua, fala e linguagem. A pesquisa linguística é feita por filósofos e cientistas da linguagem que se preocupam em investigar quais são os desdobramentos e nuances envolvidos na linguagem humana.O jornalista norte-americano Russ Rymer certa vez a definiu ironicamente da seguinte maneira:2
Cquote1.svg A Linguística é a parte do conhecimento mais fortemente debatida no mundo acadêmico. Ela está encharcada com o sangue de poetas, teólogos, filósofos, filólogos, psicólogos, biólogos e neurologistas além de, não importa o quão pouco, qualquer sangue possível de ser extraído de gramáticos. Cquote2.svg
Alternativamente, alguns chamam informalmente de linguista a uma pessoa versada ou conhecedora de muitas línguas, embora um termo mais adequado para este fim seja poliglota.

Índice

Divisões da linguística

Os linguistas dividem o estudo da linguagem em certo número de áreas que são estudadas mais ou menos independentemente. Estas são as divisões mais comuns:
  • fonética, o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
  • fonologia, o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
  • morfologia, o estudo da estrutura interna das palavras;
  • sintaxe, o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais.
  • semântica, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram;
  • lexicologia, o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
  • terminologia, estudo que se dedicada ao conhecimento e análise dos léxicos especializados das ciências e das técnicas;
  • estilística, o estudo do estilo na linguagem;
  • pragmática, o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos atos comunicativos;
  • filologia é o estudo dos textos e das linguagens antigas.
Nem todos os linguistas concordam que todas essas divisões tenham grande significado. A maior parte dos linguistas cognitivos, por exemplo, acha, provavelmente, que as categorias "semântica" e "pragmática" são arbitrárias e quase todos os linguistas concordariam que essas divisões se sobrepõem consideravelmente. Por exemplo, a divisão gramática usualmente cobre fonologia, morfologia e sintaxe.
Ainda existem campos como os da linguística teórica e da linguística histórica. A linguística teórica procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas, usando suas particulares linguagens, conseguem realizar comunicação; quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças.

A linguística histórica

A linguística histórica, dominante no século XIX, tem por objetivo classificar as línguas do mundo de acordo com suas afiliações e descrever o seu desenvolvimento histórico. Na Europa do século XIX, a linguística privilegiava o estudo comparativo histórico das línguas indo-europeias, preocupando-se especialmente em encontrar suas raízes comuns e em traçar seu desenvolvimento.
A preocupação com a descrição das línguas espalhou-se pelo mundo e milhares dessas foram analisadas em vários graus de profundidade. Quando esse trabalho esteve em desenvolvimento no início do século XX na América do Norte, os linguistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam fortemente do paradigma europeu, mais familiar. Percebeu-se, assim, a necessidade de se desenvolver uma teoria e métodos de análise da estrutura das línguas.
Para a linguística histórico-comparativa ser aplicada a línguas desconhecidas, o trabalho inicial do linguista era fazer sua descrição completa. A linguagem verbal era, geralmente, vista como consistindo de vários níveis, ou camadas, e, supostamente, todas as línguas naturais humanas tinham o mesmo número desses níveis.
O primeiro nível é a fonética, que se preocupa com os sons da língua sem considerar o sentido. Na descrição de uma língua desconhecida esse era o primeiro aspecto estrutural a ser estudado. A fonética divide-se em três: articulatória, que estuda as posições e os movimentos dos lábios, da língua e dos outros órgãos relacionados com a produção da fala (como as cordas vocais); acústica, que lida com as propriedades das ondas de som; e auditiva, que lida com a percepção da fala.
O segundo nível é a fonologia, que identifica e estuda os menores elementos distintos (chamados de fonemas) que podem diferenciar o significado das palavras. A fonologia também inclui o estudo de unidades maiores como sílabas, palavras e frases fonológicas e de sua acentuação e entonação.
O terceiro nível é a morfologia, que analisa as unidades com as quais as palavras são montadas, os morfemas. Esses são as menores unidades da gramática: raízes, prefixos e sufixos. Os falantes nativos reconhecem os morfemas como gramaticalmente significantes ou significativos. Eles podem frequentemente ser determinados por uma série de substituições. Um falante de inglês reconhece que make é uma palavra diferente de makes, pois o sufixo -s é um morfema distinto. Em inglês, a palavra morfeme consiste de dois morfemas, a raiz morph- e o sufixo -eme, nenhum dos quais tinha ocorrência isolada na língua inglesa por séculos, até morph ser adotado em linguística para a realização fonológica de um morfema e o verbo to morph ter sido cunhado para descrever um tipo de efeito visual feito em computadores. Um morfema pode ter diferentes realizações (morphs) em diferentes contextos. Por exemplo, o morfema verbal do do inglês tem três pronúncias bem distintas nas palavras do, does (com o sufixo -es) e don't (com a aposição do advérbio not em forma contracta -n't). Tais diferentes formas de um morfema são chamados de alomorfos.
Os padrões de combinações de palavras de uma linguagem são conhecidos como sintaxe. O termo gramática usualmente cobre sintaxe e morfologia. O estudo dos significados das palavras e das construções sintáticas é chamado de semântica.

Escolas de pensamento

Na Europa houve um desenvolvimento paralelo da linguística estrutural, influenciada muito fortemente por Ferdinand de Saussure, um estudioso suíço de indo-europeu cujas aulas de linguística geral, publicadas postumamente por seus alunos, deram a direção da análise linguística europeia da década de 1920 em diante; esse enfoque foi amplamente adotado em outros campos sob o termo "estruturalismo" ou análise estruturalista. Ferdinand de Saussure também é considerado o fundador da semiologia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Leonard Bloomfield e vários de seus alunos e colegas desenvolveram material de ensino para uma variedade de línguas cujo conhecimento era necessário para o esforço de guerra. Este trabalho levou ao aumento da proeminência do campo da linguística, que se tornou uma disciplina reconhecida na maioria das universidades americanas somente após a guerra.
Noam Chomsky desenvolveu seu modelo formal de linguagem, conhecido como gramática transformacional, sob a influência de seu professor Zellig Harris, que por sua vez foi fortemente influenciado por Bloomfield. O modelo de Chomsky foi reconhecidamente dominante desde a década de 1960 até a de 1980 e desfruta ainda de elevada consideração em alguns círculos de linguistas. Steven Pinker tem se ocupado em clarificar e simplificar as ideias de Chomsky com muito mais significância para o estudo da linguagem em geral. Outro aluno de Zellig Harris, Maurice Gross, desenvolveu o léxico-gramática, método de descrição formal que dá enfoque ao léxico.
A linguística de corpus, voltada ao uso de coleções de textos ou corpora, se desenvolveu nos anos 1960 e se popularizou nos anos 1980.
Da década de 1980 em diante, os enfoques pragmáticos, funcionais e cognitivos vêm ganhando terreno nos Estados Unidos e na Europa. Umas poucas figuras importantes nesse movimento são Michael Halliday, cuja gramática sistêmica-funcional é muito estudada no Reino Unido, Canadá, Austrália, China e Japão; Dell Hymes, que desenvolveu o enfoque pragmático "A Etnografia do Falar"; George Lakoff, Leonard Talmy, e Ronald Langacker, que foram os pioneiros da linguística cognitiva; Charles Fillmore e Adele Eva Goldberg, que estão associados com a gramática da construção; e entre os linguistas que desenvolvem vários tipos da chamada gramática funcional estão Simon Dik, Talmy Givon e Robert Van Valin, Jr.
Merece também destacar, nos finais do século XX, a partir de 1995, os trabalhos do linguista Jairo Galindo com a criação das Línguas Experimentais Umonani (Brasil) e Uiraka (Colômbia), que deu origem à Linguística Experimental. Já no começo do século XXI, os trabalhos são aprofundados através de línguas dinâmicas naturais. O que vai concluir com as linguagens dinâmicas reais: Umonani e Uiraka. Esses trabalhos vão dar origem a teoria da Linguística diversificada, Lindi. Sendo que os estudos nesta área vão remontar a mais de 12007 anos, e os estudiosos em linguagens dinâmicas reais vão se denominar, linguistas diversificados.

Falantes, comunidades linguísticas e universais linguísticos

Os linguistas também diferem em quão grande é o grupo de usuários das linguagens que eles estudam. Alguns analisam detalhadamente a linguagem ou o desenvolvimento da linguagem de um dado indivíduo. Outros estudam a linguagem de toda uma comunidade, como por exemplo a linguagem de todos os que falam o Black English Vernacular. Outros ainda tentam encontrar conceitos linguísticos universais que se apliquem, em algum nível abstrato, a todos os usuários de qualquer linguagem humana. Esse último projeto tem sido defendido por Noam Chomsky e interessa a muitas pessoas que trabalham nas áreas de psicolinguística e de Ciência da Cognição. A pressuposição é que existem propriedades universais na linguagem humana que permitiriam a obtenção de importantes e profundos entendimentos sobre a mente humana.

Fala versus escrita

Alguns linguistas contemporâneos acham que a fala é um objeto de estudo mais importante do que a escrita. Talvez porque ela seja uma característica universal dos seres humanos, e a escrita não (pois existem muitas culturas que não possuem a escrita). O fato de as pessoas aprenderem a falar e a processar a linguagem oral mais facilmente e mais precocemente do que a linguagem escrita também é outro fator. Alguns (veja cientistas da cognição) acham que o cérebro tem um "módulo de linguagem" inato e que podemos obter conhecimento sobre ele estudando mais a fala que a escrita.
A escrita também é muito estudada e novos meios de estudá-la são constantemente criados. Por exemplo, na intersecção do corpus linguístico e da linguística computacional, os modelos computadorizados são usados para estudar milhares de exemplos da língua escrita do Wall Street Journal, por exemplo. Bases de dados semelhantes sobre a fala já existem, um dos destaques é o Child Language Data Exchange System3 ou, em tradução livre, "Sistema de Intercâmbio de Dados da Linguagem Infantil".

Descrição e prescrição

Provavelmente, a maior parte do trabalho feito atualmente sob o nome de linguística é puramente descritivo. Há, também, alguns profissionais (e mesmo amadores) que procuram estabelecer regras para a linguagem, sustentando um padrão particular que todos devem seguir.
As pessoas atuantes nesses esforços de descrição e regulamentação têm sérias desavenças sobre como e por que razão a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos podem descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes, em linguagens diferentes. Aquilo que, para um grupo é uso incorreto, para o outro é uso idiossincrático, ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular (geralmente menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, que usa a mesma linguagem).
Em alguns contextos, as melhores definições de linguística e linguista podem ser: aquilo estudado em um típico departamento de linguística de uma universidade e a pessoa que ensina em tal departamento. A linguística, nesse sentido estrito, geralmente não se refere à aprendizagem de outras línguas que não a nativa do estudioso (exceto quando ajuda a criar modelos formais de linguagem).
Especialistas em linguística não realizam análise literária e não se aplicam a esforços para regulamentar como aqueles encontrados em livros como The Elements of Style (Os Elementos de Estilo, em tradução livre), de Strunk e White. Os linguistas procuram estudar o que as pessoas efetivamente fazem, nos seus esforços para comunicar usando a linguagem, e não o que elas deveriam fazer.

Estudos inspirados no cérebro

Psicolinguística e neurociência fazem pesquisa linguística centrada no cérebro.

Ver também



Referências

  1. Irenilde Pereira dos Santos. (Setembro/Dezembro 1994). "Lingüística". Estudos Avançados 8 (22). ISSN 0103-4014. Página visitada em 31 de julho de 2012.
  2. Rymer, p. 48, citado em Fauconnier & Turner, p. 353
  3. Child Language Data Exchange System

Bibliografia

Ligações externas


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%ADstica

Linguística aplicada

Linguística aplicada é um campo interdisciplinar de estudo que identifica, investiga e oferece soluções para problemas relacionados com a linguagem da vida real. Alguns dos campos acadêmicos relacionados à linguística aplicada são educação, linguística, psicologia, antropologia e sociologia.
Esforços de descrição e de regulamentação: concepções estritas de linguística.
Provavelmente, a maior parte do trabalho feito, atualmente, sob o nome de línguística constitui-se puramente descritivo. Os seus autores procuram clarificar a natureza da linguagem sem usar juízos de valor ou tentar influenciar o seu desenvolvimento futuro. Há, também, alguns profissionais (e mesmo amadores) que visam estabelecer regras para a linguagem, sustentando um padrão particular que todos devem seguir.
As pessoas atuantes nesses esforços de descrição e regulamentação possuem sérias desavenças sobre como e por que razão a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos podem descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes, em linguagens diferentes. Aquilo que, para um grupo é uso incorreto, para o outro é uso idiossincrático, ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular (geralmente menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, que usa a mesma linguagem).
Em alguns contextos, as melhores definições de linguística e lingüista podem ser: aquilo estudado em um típico departamento de linguística de uma universidade e a pessoa que ensina em tal departamento. A linguística, nesse sentido estrito, geralmente não se refere à apredizagem de outras línguas que não a nativa do estudioso (exceto quando ajuda a criar modelos formais de linguagem).
Especialistas em linguística não realizam análise literária e não se aplicam a esforços para regulamentar como aqueles encontrados em livros como The Elements of Style (Os Elementos de Estilo, em tradução livre), de Strunk e White. Os linguistas procuram estudar o que as pessoas fazem nos seus esforços para comunicar usando a linguagem e não o que elas deveriam fazer.
Divisões da linguística
Os linguistas dividem o estudo da linguagem em certo número de áreas que são estudadas mais ou menos independentemente. Estas são as divisões mais comuns:
  • fonética, o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
  • fonologia, o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
  • morfologia, o estudo da estrutura interna das palavras.
  • sintaxe, o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais.
  • semântica, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram;
  • lexicologia, o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
  • terminologia, estudo que se dedicada ao conhecimento e análise dos léxicos especializados das ciências e das técnicas;
  • estilística, o estudo do estilo na linguagem;
  • pragmática, o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos atos comunicativos;
  • filologia é o estudo dos textos e das linguagens antigas.
Nem todos os lingüistas concordam que todas essas divisões tenham grande significado. A maior parte dos lingüistas cognitivos, por exemplo, acha, provavelmente, que as categorias "semântica" e "pragmática" são arbitrárias e quase todos os linguistas concordariam que essas divisões se sobrepõem consideravelmente. Por exemplo, a divisão gramática usualmente cobre fonologia, morfologia e sintaxe.
Ainda existem campos como os da linguística teórica e da linguística histórica. A linguística teórica procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas usando suas particulares linguagens conseguem realizar comunicação, quais propriedades todas as linguagens possuem em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças.
A linguagem no tempo
Os linguistas se dividem entre os que estudam a linguagem em um dado ponto do tempo (geralmente o presente, linguística sincrônica) e aqueles que estudam sua evolução através do tempo (linguística diacrônica), séculos, por vezes.
Geralmente, os linguistas de um campo acham que o outro campo é menos interessante e fornece menos possibilidade de compreensão dos problemas da linguagem.
A linguística histórica, dominante no século XIX, tem por objetivo classificar as línguas do mundo de acordo com suas afiliações e descrever o seu desenvolvimento histórico. Na Europa do século XIX, a linguística privilegiava o estudo comparativo histórico das línguas indo-europeias, preocupando-se especialmente em encontrar suas raízes comuns e em traçar seu desenvolvimento. Nos Estados Unidos, onde começou a se desenvolver, no final do século XIX, houve uma concentração sobre a documentação de centenas de línguas nativas que foram encontradas na América do Norte.
A preocupação com a descrição das línguas espalhou-se pelo mundo e milhares dessas foram analisadas em vários graus de profundidade. Quando esse trabalho esteve em desenvolvimento no início do século XX na América do Norte, os linguistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam fortemente do paradigma europeu, mais familiar, de forma que começaram a aperceber-se de que necessitavam desenvolver uma teoria da estrutura das línguas e métodos de análise.
Fora de tais preocupações, desenvolveu-se o campo conhecido como linguística estrutural, cujos pioneiros são Franz Boas, Edward Sapir e Leonard Bloomfield.
Para a linguística histórico-comparativa ser aplicada a línguas desconhecidas, o trabalho inicial do lingüista era fazer sua descrição completa. A linguagem verbal era, geralmente, vista como consistindo de vários níveis, ou camadas, e, supostamente, todas as línguas naturais humanas tinham o mesmo número desses níveis.
O primeiro nível é a fonética, que se preocupa com os sons da língua sem considerar o sentido. Na descrição de uma língua desconhecida esse era o primeiro aspecto estrutural a ser estudado. A fonética divide-se em três: articulatória, que estuda as posições e os movimentos dos lábios, da língua e dos outros órgãos relacionados com a produção da fala (como as cordas vocais); acústica, que lida com as propriedades das ondas de som; e auditiva, que lida com a percepção da fala.
O segundo nível é a fonologia, que identifica e estuda os menores elementos distintos (chamados de fonemas) que podem diferenciar o significado das palavras. A fonologia também inclui o estudo de unidades maiores como sílabas, palavras e frases fonológicas e de sua acentuação e entonação.
No nível seguinte, são analisadas as unidades com as quais as palavras são montadas, os "morfemas". Esses são as menores unidades da gramática: raízes, prefixos e sufixos. Os falantes nativos reconhecem os morfemas como gramaticalmente significantes ou significativos. Eles podem freqüentemente ser determinados por uma série de substituições. Um falante de inglês reconhece que "make" é uma palavra diferente de "makes", pois o sufixo "-s" é um morfema distinto. Em inglês, a palavra "morfeme" consiste de dois morfemas, a raiz "morph-" e o sufixo "-eme"; nenhum dos quais tinha ocorrência isolada na língua inglesa por séculos, até "morph" ser adotado em lingüística para a realização fonológica de um morfema e o verbo "to morph" ter sido cunhado para descrever um tipo de efeito visual feito em computadores. Um morfema pode ter diferentes realizações (morphs) em diferentes contextos. Por exemplo, o morfema verbal "do" do inglês tem três pronúncias bem distintas nas palavras "do", "does" (com o sufixo "-es")e "don't" (com a aposição do advérbio "not" em forma contracta "-n't"). Tais diferentes formas de um morfema são chamados de alomorfos.
Os padrões de combinações de palavras de uma linguagem são conhecidos como sintaxe. O termo gramática usualmente cobre sintaxe e morfologia, o estudo da formação da palavra. Semântica é o estudo dos significados das palavras e das construções sintáticas.

Bibliografia

  • ALLEN, J.P.B. & P. The Edinburg Course in Applied Linguistics. London: Oxford University Press. 1973. Vol I.
    • The Edinburg Course in Applied Linguistics. London: Oxford University Press. 1975. Vol II.
    • The Edinburg Course in Applied Linguistics. London: Oxford University Press. 1974. Vol III.
    • The Edinburg Course in Applied Linguistics. London: Oxford University Press. 1977. Vol IV.
  • BASTOS, Lúcia K.X., Mattos, Maria Augusta (eds.) Trabalhos em Lingüística Aplicada. 22. Campinas. UNICAMP/IEL. 1993.
  • GRABE, William & Kapplan, Robert. Becoming an Applied Linguist. In GRABE, William & Kapplan, Robert. (eds). Introduction to Applied Linguists. Reading, Mass.: Addison-Wesley. 1991. 33-58.
  • KEHOE, Monika. Applied Linguistics: A Survey for Language Teachers. London: Collier-Macmilliam International. 1968.
  • MOITA LOPES, Luiz Paulo. Oficina de Lingüística Aplicada. A Natureza Social e Educacional dos Processos de Ensino/Aprendizagem de Línguas. Campinas: Mercado de Letras. 1996.
  • STREVENS, Peter. Applied Linguistics: An Overview. In: In GRABE, William & Kapplan, Robert. (eds). Introduction to Applied Linguists. Reading, Mass.: Addison-Wesley. 1991. 13-31.
  • WIDDOWSON, Henry G. Explorations in Applied Linguistics 2. Oxford: Oxford University Press. 1984.

Ligações externas

Linguística
Divisões
Fonética | Pragmática | Fonologia | Morfologia | Sintaxe | Semântica | Lexicologia | Estilística
Tipos de linguística
Antropológica | Cognitiva | Gerativa | Comparativa | Aplicada | Geolinguística | Computacional | Histórica | Neurolinguística | Política linguística | Psicolinguística | Sociolinguística
Artigos relacionados
Preconceito linguístico | Análise do discurso | Aquisição da linguagem | Línguas A e B | Sistema de escrita | Ciência cognitiva | Estruturalismo | Etimologia | Caso gramatical | Figura de linguagem
Família de línguas | Filologia | Internetês | Lista de linguistas | Gramática | Língua de Sinais | Alfabeto | Eurodicautom | Língua e cultura | Semiótica
Atos da fala | Análise do discurso
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%ADstica_aplicada

 

Política linguística

Placa "pare" em inglês e francês em Ottawa. A política linguística desempenha um papel importante no Canadá.

A política lingüística (PL) nasceu como área de estudos na década de 1960 e preocupa-se com a relação entre o poder e as línguas, ou mais propriamente, com as grandes decisões políticas sobre as línguas e seus usos na sociedade (Calvet): que línguas podem ou não podem ser usadas em determinadas situações, oficiais ou não; em como línguas são promovidas ou proibidas, a partir de ações sobretudo do Estado sobre seus falantes (política de status); em como línguas são instrumentalizadas para determinados usos (política de corpus).
A política lingüística está na base da ação dos Estados a respeito das línguas, já que a presença e os usos das línguas em cada situação é uma questão política e constantemente permeada de conflitos e negociações.
A planificação lingüística é a área da PL preocupada com as intervenções sobre as línguas, sobretudo a promoção de línguas, isto é, a criação de programas de revitalização, manutenção, escrituralização, criação de escolas bilíngües e de legislação específica para a questão das línguas. Preocupa-se também com a questão dos direitos lingüísticos e do patrimônio lingüístico.
No Brasil, as línguas minoritárias podem ser classificadas em dois grupos: Línguas autóctones, ou seja, nativas ou que têm sua origem na terra (por exemplo, caingangue, guarani, língua geral, etc.; e línguas alóctones, ou idiomas que surgiram e resultaram como legados do histórico da imigração do país (por exemplo, hunsrückisch, pomerano, talian, japonês, etc.). Todos os idiomas minoritários do Brasil, da mesma forma que ocorre em outros países do mundo, são influenciados de uma maneira ou outra por sua política lingüística nacional.
É muito recente a caracterização da política lingüística no Brasil como área. Até o ano de 2006, somente um programa de pós-graduação em lingüística tinha uma linha de pesquisa em política lingüística, o da Universidade Federal de Santa Catarina. Dedica-se ao assunto desde 1999 no Brasil e no Mercosul o IPOL - Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística — com sede em Florianópolis, Brasil.

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_lingu%C3%ADstica


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